Pages

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A esses meus heróis


Já imaginava que não me sairia tão mal nos meus empreendimentos pós formatura, e um dos principais motivos para tanto foi a certeza de ter presente nas minhas incontáveis horas de estudo grandes mestres contribuindo diariamente para as minhas formações profissional e pessoal (se é que elas podem ser separadas).
Durante os 20 anos ou mais de sala de aula, obviamente muita coisa aconteceu e, até nos dias tediosos, eu soube que sentiria falta quando saísse dela. E assim está sendo, e de uma forma muito intensa e estranha. Até geografia me faz falta! (Não, o meu monstro no colégio não foi a matemática). Ainda não entendi que, em certos pontos, deixei de ser aluna, e acabo elegendo vários tutores, educadores, orientadores e afins pelo meio do caminho.
Nunca senti tanta vontade quanto agora de homenagear as dezenas de professores com os quais tive oportunidade de aprender um pouco sobre a vida. Garanto que nas minhas memórias contém os nomes e muitas histórias de cada um desde o maternal e o jardim de infância até a graduação. As fotos, o fardamento amarelado, os cadernos riscados com tanta informação diferente e tudo o que ainda guardo com muito carinho e nostalgia também me permitem lembrar certas peculiaridades que vivi nesses anos.
E aqueles que não precisaram de carteiras para me ensinar música, esporte e outras artes também conseguiram ir além dos objetivos propostos nas ementas imaginárias.
Nunca vou conseguir retribuir e entender tanto investimento aplicado em mim. Só consigo expressar uma sincera e profunda gratidão com um nó na garganta de tanta saudade: MUITO OBRIGADA!! Se tenho um mínimo aspecto digno de admiração, garanto que há muita contribuição deles.


A esses meus heróis, feliz Dia do Professor!

Adriane Ponte Cisne
15 de outubro de 2014

sábado, 20 de setembro de 2014

Primeiro trabalho, trabalho primeiro


Não queria esquecer daquela sensação de sair de casa para trabalhar – principalmente por ser longe dela – pela primeira vez depois da formatura. Foi angustiante. Muito mais que isso! Fiz planos o suficiente para lidar com diversas situações por saber que estaria viajando para onde nunca fui. Pus dificuldade em várias coisas, muitas vezes sem visível intenção, talvez porque não quisesse mesmo trabalhar, nem ir embora. Notando que espernear já não funcionava, chorei o percurso inteiro vendo que não tinha mais nada para fazer, e aceitei o que já estava imposto.

Desde os últimos semestres da faculdade, as despedidas vinham se tornando rotina, e não foram nem um pouco agradáveis. Da companhia diária dos colegas de sala, dos professores, de alguns amigos, das aulas, do prédio, dos estágios, do título de estudante, de um certo nível de irresponsabilidade aceitável... E, agora, da minha casa e da minha família, das minhas aulas de música, da academia, das saídas noturnas com os amigos. Parece um pouco dramático, mas tinha certeza de que sentiria muita falta, mesmo sabendo que para eles não passaria de um “até logo”. Vi meus dias mudarem muito rápido, mas entendi que isso aconteceria cedo ou tarde e que seria patológico se não o fizesse. Há muito tempo vinha elaborando minha saída, desacostumando-me – sem sucesso – da minha família tão presente, do meu quarto tão confortável e seguro, da minha casa tão cheia de mim. Mas arrumei uma mala pequena apenas com o necessário e sai.

Reitero: foi angustiante. Chorei, ouvi músicas, li, escrevi, chorei mais. Dormi mal, fiquei trancada, andei no sol. Dirigi, ouvi muitas músicas altas, cantei até quase perder a voz. Morei sozinha, aluguei e organizei um apartamento, lavei roupas, comprei comida, revirei algumas noites na rede desconfortável demais para a minha impaciência. Depois dormi muito por querer fazer nada, nem sequer pensar. Fiz planos para me convencer de que estaria no caminho certo.

Trabalhei. Muito! Ajudei a organizar um serviço que estava nascendo com a minha chegada, suprindo necessidades desde copos e canetas até às documentações burocráticas e chatas. Estudei mais. Conheci muita gente, fiz amigos. Fiquei conhecida e aceitei o “doutora” para quem não se interessava nem sob insistência em decorar meu nome. Aprendi muito! Lidei com o desconhecido, com autoridades, com os obstáculos peculiares ao serviço público, com a responsabilidade de ser profissional e de ser ouvida e atendida. Trabalhei minha serenidade para encarar isso e optei por não deixar o bom humor em segundo plano. Acredito que tenha dado certo e tenha conseguido contribuir um pouco.

A adaptação foi sofrida, confesso, mas foi rápida. As noites, que começavam às 4:30h da tarde e terminavam às 8h da manhã, rapidamente encurtaram diante do tanto que tive para elaborar. “Não sei nem o que fazer com tudo isso” foi o que eu disse a um amigo próximo com o qual tive muito contato também nesses dias. Mas soube o que fazer, afinal de contas: deixei acontecer. Rasguei o peito para consertar a saudade e sintonizar meus desejos. E tive “nada a temer senão o correr da luta, nada a fazer senão esquecer o medo”, como Milton cantou. Medo mesmo, na verdade, não tive. Se tinha algo para esquecer, não era isso, mas, sim, o conforto de uma vida facilitada por outros.

Cliniquei em 30 dias quase o que havia feito em 10 meses de estágio – em número de pessoas, e não de atendimentos, obviamente. Atendi muitas angústias e surtos, ouvi histórias diferentes, machuquei o pulso por escrevê-las em manuscrito, e ainda nem as terminei. Foram 22 vozes chorosas e/ou reclamantes e, para muitas, fui a última esperança. Para uma, fui o último recurso antes da corda no pescoço.

Ganhei pouco em cheque, mas não me deixei insatisfazer demais. Foi uma experiência que não cabe aqui e, de tão grande, parece inacreditável que caiba em um mês.

Então, agora, tenho que encarar outra despedida. Da equipe já tão engrenada, dos planos animadamente arquitetados com todos, das esperanças depositadas em mim por tantos e por mim mesma. O motivo é simples: outra instituição me encontrou, chamou-me e eu aceitei. Pelas condições de trabalho serem absolutamente mais interessantes e pela alta pressão alheia para que consentisse – família, amigos e colegas de trabalho foram unânimes –, eu disse sim a esta nova experiência que nem me deixou chamar a anterior de velha. Também pela esperança de que eu continue aprendendo e conhecendo um pouco mais do mundo profissional.

Assim, amanhã é meu último dia de trabalho aqui. Vou arrumar aquela mala pequena de novo e juntar as outras poucas coisas num matulão. Mas ainda sei que vou precisar me adaptar novamente, sem me permitir descansar demais.

Vou, mas levo uma dúvida: estou voltando para casa, e não consigo decidir se é bom ou ruim.


Adriane Ponte Cisne
11 de setembro de 2014

terça-feira, 17 de junho de 2014

TCC: agradecimentos



 À Universidade Federal do Ceará (UFC), por selecionar extraordinários docentes para o curso de psicologia do campus de Sobral.
Ao professor Dr. Luis Achilles Rodrigues Furtado, pela inominável-em-absoluto e musical orientação deste trabalho e do fim deste percurso acadêmico. Pelos incentivos, correções, confiança, ética, companheirismo, e por pacientemente entender meu lento tempo relacionado aos estudos.
Aos professores Dra. Camilla Araújo Lopes Vieira e Dra. Rita Helena Sousa Ferreira Gomes por aceitarem compor a Banca Examinadora de forma crítica e construtiva, e compartilharem esse momento único na minha graduação.
Aos meus pais Zuleica Ponte Cisne e Antônio Moisés Cisne, por, mesmo não concordando absolutamente com a minha escolha pela profissão, entenderam-na e me deram conforto para estudar durante esses cinco anos de crises existenciais e para tomar alento quando tudo fora de casa girava em torno da psicologia.
À minha irmã Juliane Ponte Cisne, por incondicionalmente me ouvir elaborar a psicologia em voz alta por inúmeras vezes.
Aos meus amigos de profissão, por me ouvirem reclamar em momentos de antipatia ao estudo e devanear em momentos de grandes insights. Por toparem o engajamento em discussões acerca de tudo o que a psicanálise e a psicologia nos têm apresentado, tornando-se fundamentais para abrandar muitas das minhas infindáveis dúvidas. Por estreitarem os laços e tornarem-se mais que colegas.
Aos meus outros amigos e familiares, pelo presente de suas presenças quando estive ausente dedicando-me ao ensino superior e por me ajudarem a ver a vida com leveza e a psicologia com bom-humor.
À música, por contribuir em sublimações e muito me inspirar, e por, ao final de cada etapa de estudo e em cada momento de desespero, permitir-me respirar de uma forma que, provavelmente, nem uma sessão de análise poderia proporcionar.
A cada ser humano que entrou em contato comigo desde que nasci e em todos os lugares que estive, por me permitirem observar o mundo em diferentes perspectivas e, sem saberem, tornaram-se deveras importantes em aspectos essenciais para minha escolha profissional e construção pessoal.
A Deus, por me acompanhar mesmo quando perco a fé, e me fazer recuperá-la diariamente ensinando-me que não posso ter o controle de tudo.