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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Férias... Para quê te quero?!

AAAAAH, AS FÉRIAS... Poder dormir todo o tempo de sono trocado por horas de estudos, sonecar cada minuto que passei acordada quando deveria (mas não convinha) estar dormindo. E o que é melhor: poder dormir de olhos fechados, já que por muitas vezes não consegui conter o sono mesmo estando com as pálpebras abertinhas da vida e as pupilas bem à mostra.

Poder assistir a todos os filmes, seriados e programas de TV que a pouca responsabilidade que em mim vigora obrigou que eu trocasse pela companhia dos textos da faculdade. Poder ler os livros que eu quiser sem ter a preocupação de responder questões em prova sobre e
les. Poder escrever esse texto sem me preocupar em criar outros, como fichamentos, artigos, resenhas, ensaios, e sem data para entregar a ninguém. E mais, escrevê-lo sem me preocupar com espaçamento entre linhas, fonte e tamanho obrigatórios, notas de rodapé, nem normas da ABNT. Poder usar metáforas, hipérboles, eufemismos, abreviações, coloquialismos e interjeições (oh, puxa, que bom!).

Poder almoçar! Sim! Comer arroz, feijão, tomate e carne com vinagre, molhos inglês e shoyu e outros dos meus temperinhos preferidos, sentada na mesa de casa com a família ouvindo rádio, com a Lassie e o Shanim perturbando de cada lado por umas migalhinhas, ao invés de comer salgados na mesa da cantina da faculdade ou na lanchonete da esquina (não que sejam ruins), ouvindo mp3 para relaxar um pouquinho, ou escrevendo trabalhos de última hora com a equipe reunida, ou programando o resto do dia para não me atrasar em nada, sem tempo para um docinho de sobremesa, nem para a sesta ou para a digestão ou até para a deglutição do que raramente era mastigado.

Poder entrar no MSN e ficar com o status “disponível” para quem quiser perturbar poder perturbar à vontade sem eu me sentir perturbada (inclusive, pode me adicionar: atmosferinha@hotmail.com! Estou disponibilíssima a conversar qualquer futilidade nas férias!). Poder acessar o orkut e futricar em um monte de comunidades inúteis, poder acessar o twitter e não fazer nada nele porque é muito chato escrever míseros caracteres, poder atualizar este blog entregue às teias! Poder fazer downloads de seriados e jogos, mesmo com a internet quase de férias também (mas nem importa, PORQUE EU ESTOU DE FÉRIAS, e posso esperar o dia inteiro!). Poder baixar músicas na internet e ouvi-las bem alto deixando os vizinhos de cabelos em pé porque eles também estão de férias e não têm nada para estudar. Poder tocar violão até os dedos incharem e brotarem calos no indicador por causa das pestanas.

Já citei o fato de poder dormir o quanto eu quiser?! Pois é... Eu posso!! E sem me preocupar com despertadores que fazem com que eu abuse da música programada e que dão pesadelo minutos antes de me despertarem ou que interrompem o sonho com o meu príncipe encantado vindo até mim em câmera lenta de cavalo branco; sem me preocupar com professores me acordando no meio da aula, nem com as câmeras dos celulares tirando fotos antes de os professores me acordarem no meio da aula.

Permiti-me até largar a academia, a bicicletada e a caminhada matinais! O ministério da saúde adverte: ser sedentária faz mal. Mas existem outros milhões de coisas que fazem mal e a gente nem se preocupa em não fazê-las. Ora, é muito bom sentar (ou deitar; depende do peso da preguiça) no sofá com um pacote de biscoitos (ao invés de litros de café – odeio café – para não dormir) e, durante o dia inteiro, assistir a filmes, desenhos animados, clipes na MTV, seriados de madrugada, dentre outros programas que insistiam em passar exatamente no horário das aulas e reuniões de estudos. Vou descontar tudo!

Bom... Se bem que isso tudo abusa quando dá preguiça de ler livros sem ninguém me pressionar, quando não tem mais filmes novos para alugar, quando bate a saudade dos amigos da sala e da bagunça da turma no intervalo das aulas, quando os assuntos no MSN se resumem só a “ois” e “tchaus”, quando todo mundo viaja e fica incomunicável, quando os desenhos animados não têm mais tanta graça como Tom & Jerry e os seriados começam a repetir. Com um certo tempo, dá abuso até de pensar na morte da bezerra afundada no sofá ou na melancolia da minha cama, dá enjôo quando o colchão da cama já está com o formato de um ninho, com um buraco no meio devido ao uso intenso nas férias... (oh, puxa, que chato!).

AAAAAH, AS AULAS... A agenda lotada e toda riscada com compromissos marcados e desmarcados forjando horários disponíveis, os textos intermináveis para ler, os trabalhos em equipe para fazer, as brigas saudáveis entre os amigos que dão vontade de rir depois, as discussões sobre assuntos interessantes, a turma estigmatizadamente animada e barulhenta subindo pelas paredes com tudo atrasado e fazendo piada disso, a amizade daqueles que tiram um tempinho para compartilhar um sorriso, um abraço e um sorvete (mesmo que este último seja depois das 10 da noite). A pressão, a falta de tempo para comer, dormir e/ou tomar banho. O sono querendo marcar encontros nas madrugadas agitadas, a pouca responsabilidade que em mim vigora caindo por terra para dar lugar às sonecas pós-almoço, os ponteiros do relógio que insistem na desarmonia com a minha preguiça. Os atrasos, a pressa, as notas, a falta de memória para atrapalhar as negociações com o tempo escasso. Aulas de Psicologia analítica, Análise do comportamento, Psicanálise... (Oh, puxa, que perfeito!).

Nada como uma turbulência para a gente se sentir vivo! Ah, o ócio... Ruim sem ele, pior com ele.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CISNE, Adriane Ponte. Férias doces férias. 1. ed. Sobral: APC, dez. 2010