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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Educação, ou a falta dela


Pode parecer frescura minha, mas em tempos de tanta falta de censura e tantos “ora, pode, por que não?”, ainda não me acostumei com a falta de educação alheia. Basicamente não me sinto gente quando alguém me maltrata intencionalmente (!), mesmo da mais simples forma.

Não quero criar manuais de etiqueta atualizados para o século XXI, mas às vezes parece que “obrigado”, “desculpa”, “por favor” e afins saíram de moda ou foram abolidos com o vigor da nova ortografia. Nem sou de cobrar tanto isso dos outros, mas às vezes é notável um propósito pouco ou nada disfarçado de agredir alguém sem muita justificativa. Ah, isso me revolta! E já consegue me tirar um ATP descomunal para não devolver na mesma moeda. E, veja só, essa relativa pouca paciência já é consequência da falta de educação alheia. Entendeu o caso? Estão me ensinando a ser o que eu mesma critico! E não vou mentir que às vezes dá vontade de ser mais hostil, e outras vezes o sou mesmo, porque sei que é mais fácil e o resultado visado é quase instantâneo, infelizmente.

Parece que não somos gente convivendo com gente. Às vezes me sinto um ratinho que vai dirigir e encontra um leão na moto parado no sinal mostrando os dentes para o gato da bicicleta que passou do lado do cavalo atravessando a rua a pé olhando para o passarinho com a formiga no bico em cima da calçada. Ou seja, ninguém se entende, nem sequer está vivo com o propósito de deixar o outro viver. E vamos levando os dias na iminência de morder quem ocasionalmente passa por perto.

Já parei várias vezes para pensar nisso e tentar relevar fácil, mas decidi que não quero. Não fui criada para chamar os senhores de “tu”, nem para mostrar “cotoco” e soltar palavrões quando me sentir insatisfeita, e isso é o mínimo do mínimo. Por que, então, tenho que aceitar quando o fazem comigo? Noutro dia, um garotinho me deu dedo várias vezes enquanto eu estava vestida de palhaço no hospital tentando alegrá-lo. Fiz questão de exigir insistentemente o dedo, afinal ele tinha me dado, ora! Até que desistiu de me insultar. Sua mãe apenas riu.

Há menos de um mês, derrubei um cara da moto e fui estacionar para prestar socorro. Quando já estávamos ele e eu no hospital esperando o médico chegar, ele desabafou: “achava que você ia fugir e me deixar lá”. Fiquei surpresa por ele ter pensado assim, mas pensei que muita gente faria exatamente isso, e me senti orgulhosa por não ter sido mal educada (sim, considero isso, além de outras coisas, falta de educação também) nem ter passado pela minha cabeça, e ainda me sinto orgulhosa de escrever aqui porque não é o tipo de ação que merece parabéns nem recompensa, mas é algo que acho que se deve fazer, porque o cara não era um cordeirinho e eu não era um leão, nem vice-versa.

Enfim... Entenda que meu mundo não está dentro de uma bolha amarela (amarela porque se tivesse que ser perfeito não seria cor-de-rosa), e eu não sou cega ou iludida da vida ou pinel da cachola. Claro que falta de educação vai muito além das famosas “palavrinhas mágicas”. Elas não abarcam tudo (não há, na verdade, algo que abarque tudo em lugar nenhum). Sei também que é difícil apontar o que é certo ou errado, se é que posso dizer que esses termos ainda existem, principalmente hoje, quando as coisas se misturam e se permitem freneticamente de muitas formas. Só acho que algumas posturas ainda devem ser levadas a sério apesar de toda a liberdade que nós ganhamos para fazer o que quisermos sem muita lei (que nem precisa ser estabelecida no papel) para barrar.

 

Desculpa se falei besteira.
Por favor, fique à vontade.
Obrigada por ler.






Adriane

1 de abril de 2013