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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Eterna dialética


Vivo numa eterna dialética. Às vezes me sinto de mãos vazias, com a sensação de não ter conquistado tudo o que alguém da minha idade deveria ter para andar sozinho. Outras vezes, sinto minhas mãos tão cheias de uma carga tão pesada que pareço ter oitenta anos de acúmulo dela. A partir daqui, tenho duas sensações: uma de ter tanta experiência de vida pensada (como se o meu pensar fosse o meu viver) que conseguiria carregar um mundo nas costas sem cansar, e a outra é oposta, como se essas oito décadas metafóricas tivessem enfraquecido meus ossos de fato e me dessem indisposição suficiente para tentar um passo. 

Sei que tenho muita vida ainda para respirar, e sei que possuo muitas ferramentas que me empurram a todo instante para frente. Mas como posso usá-las se não encontro um sentido para continuar vivendo? Sinto sono e quero dormir, porque sonhar é muito melhor do que levantar e sair de casa, e minha cama é bem mais confortável do que sentir minhas pernas doendo de tanto ficar em pé, e as paredes do meu quarto não me julgam. É aqui onde todas as ferramentas que acumulei para conquistar uma boa vida podem enferrujar e desaparecer com o tempo. Se isso acontecer, lá na frente vou saber que no fundo foi culpa minha, porque fui eu que não as utilizei enquanto ainda eram novas e enquanto eu ainda tinha força em meu corpo jovem.

Não é todo dia que eu sei o que eu quero ser, para onde quero ir. Nem sempre sei o que me move. Queria uma certeza, mas saber que acumular certezas não é interessante para manter a prerrogativa de aprendizagem constante. Bom, isso não deixa de ser uma certeza, mas, teoricamente, ela seria necessária, afinal. A questão é que procuro verdades para abraçar e diminuir minhas pressa e angústia, mesmo sabendo que provavelmente eu encontraria outra insatisfação.

Eu quero conhecer o mundo. Ah, quero, sim! Mas não sozinha. Não de qualquer forma. Não sem conseguir chegar tão perto para vê-lo com as mãos e ouvi-lo com o coração. Antes preciso de um norte. Aliás, acabei de perceber que posso achá-lo durante.
 

APC
26 de dezembro de 2013

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