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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Querida Andressa


 
DEDICATÓRIA NO LIVRO:


Taí, Dessa... Tu quis descobrir o Inconsciente, agora aguenta as consequências e/ou vai sublimar mundo afora.

Dedico este livro a ti como uma forma de contribuir microscopicamente com os teus estudos, e para tu descobrir, além de muito por aqui, também que nada deve ser suficiente para te convencer de que já aprendeu tanto que não possa ler sempre mais um pouco, nem que sejam as mesmas palavras já lidas centésimas vezes.

PS.: segue em anexo uma carta.

Adriane Ponte Cisne
28 de dezembro de 2013

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Queria escrever algo legal pra ti aqui, e não apenas a resposta da tua carta,
mas não consegui ir além de um gesto de agradecimento e desabafo.


Querida Andressa,

Li hoje pela primeira vez o que tu me escreveu desde aquele amigo doce com pizza de batata frita, em que tu mesma leu em voz alta para todos da mesa. Acho que eu estava poupando minha emoção para sentir tuas palavras de novo porque eu queria escrever algo com o coração também – e neste livro que queria te dar de aniversário (não preciso mais pedir desculpas pelos meus atrasos, né?) –, e porque sabia que não podia ler de qualquer jeito. E agora marejei ao ver tua letra enrolada e ouvir tua voz bem entonada com um ar de monólogo poético e teatral lendo. Entristeci porque sei que vou esquecer aquele som com o passar do tempo (deixa eu gravar?), e não só por isso, mas também porque vou esquecer essa sensação de nó na garganta pela ânsia de ter um futuro legal fora da faculdade sem querer deixá-la para trás, por saber que meus amigos não vão ser mais tão pra sempre assim. Dói quando tu diz que não quer ficar em Sobral e eu sinto a distância muito perto.
                Apesar de não ter guardado na memória muito do que tu leu naquele dia devido ao barulho no ambiente e à minha tentativa (frustrada) de concentração para te ouvir de longe e conter o sorriso bobo ao mesmo tempo, uma frase ficou gravada como um ritornelo de uma partitura, o qual permite uma música deixar sua marca pela compulsão à repetição; ou como a insistência de algo que deve ser lembrado e elaborado obsessiva e minunciosamente sob o risco de perder o sentido se for banalmente desconsiderado. Teu “eu estou pronta” entrou cortando tudo por dentro como se eu ainda estivesse ingenuamente presa no primeiro semestre enquanto toda a turma já estava com os canudos estirados em molduras nas paredes dos consultórios elegantes, mas, ao mesmo tempo, senti tua mão me puxando para alcançar o objetivo final de tudo isso, que eu nem sei direito qual é, e nem me importei tanto por não saber naquele momento, mas senti que podia confiar em ti mais do que nunca para me mostrar algum sentido. Inclusive, “seja pulsão de vida” foi o pedido mais difícil que tu me fez nessa carta, sabia? Porque simplesmente eu não sei ser. Mas, ainda assim, vi que também posso estar pronta.

Sim, estamos em dezembro de 2013 e, respondendo-te: sim, ele tem sido generoso comigo, e cruel também, em complô com todos os outros meses desses anos desde 2009. Agora tu deve estar lendo isso – pela primeira vez, pelo menos – em janeiro de 2014 com um ar vigoroso, espero, de renovação das forças e de continuidade de uma jornada pouco facilitada pela experiência.
Espero mais. Espero tanto de 2014 que parece ser a primeira vez que não vejo tão claramente o que pode acontecer, como se não fosse possível traçar tabelas de horários semanais porque tudo está tão vazio de aulas e tão cheio de gigantescos compromissos que dispensam papel e caneta e nos colocam, agora sim, no começo de um fim apressado. A adaptação vai ser difícil, e te peço ajuda para não sair sozinha do conforto contraditório da vida de estudante.

É, Dessão... A saudade é estranha mesmo, como tu disse, e ela vai fazer questão de me deixar despedaçada lá na frente, mas acho que se eu sentir que não vou estar sozinha nisso e que ela vai ser motivo para assassinar a distância, reservo um cantinho confortável pra ela morar, e vou me sentir bem sabendo que nada poderia ter sido diferente, nem em intensidade, nem em magnitude. As aulas, os trabalhos e seminários, as provas e provações, os atrasos, as músicas, as comidas, os parabéns, as despedidas e as boas vindas, os abraços e os tapas carinhosos e de reprovação, as madrugadas de estudos e de farras, as ressacas e o sono, os estágios e os pacientes, os choros e os risos, os êxitos e as burradas, as tantas conversas em meio a crises existenciais, as piadas internas tão externalizadas que pediam para fazermos silêncio, e muito, um tantão mais que fico tonta tentando lembrar. E tudo foi pleno, às vezes compartilhado, às vezes sentido sozinha. Faríamos tudo de novo, se pudéssemos voltar. No entanto, queremos seguir em frente por milhões de motivos que não giram só em torno da independência financeira, como costumamos brincar, mas para provar outras experiências e comprovar que já estamos preparadas, mesmo sentindo medo e carregando tantas dúvidas.
Uh, mas vou chorar tanto quando ler meus cadernos daqui a uns anos e encontrar nossas conversas escritas durante as aulas, com besteiras hilárias e conflitos sérios. E fica sabendo que tu fez uma grande diferença por aqui.
Não vai embora, tá? Fica mais um pouco depois da festa.


Para minha grande amiga “linda, inteligente e psicanalista” (tu apud eu),
Da menina invisível, bicho arredio mulher (quase) psicanalista bestonilda do décimo semestre,

Adriane Ponte Cisne
27 de dezembro de 2013


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DIZ AÊ!!