DEDICATÓRIA NO
LIVRO:
Taí, Dessa... Tu
quis descobrir o Inconsciente, agora aguenta as consequências e/ou vai sublimar
mundo afora.
Dedico este
livro a ti como uma forma de contribuir microscopicamente com os teus estudos,
e para tu descobrir, além de muito por aqui, também que nada deve ser
suficiente para te convencer de que já aprendeu tanto que não possa ler sempre mais
um pouco, nem que sejam as mesmas palavras já lidas centésimas vezes.
PS.: segue em
anexo uma carta.
Adriane Ponte Cisne
28 de dezembro de 2013
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Queria escrever
algo legal pra ti aqui, e não apenas a resposta da tua carta,
mas não consegui
ir além de um gesto de agradecimento e desabafo.
Querida
Andressa,
Li hoje pela
primeira vez o que tu me escreveu desde aquele amigo doce com pizza de batata
frita, em que tu mesma leu em voz alta para todos da mesa. Acho que eu estava
poupando minha emoção para sentir tuas palavras de novo porque eu queria
escrever algo com o coração também – e neste livro que queria te dar de
aniversário (não preciso mais pedir desculpas pelos meus atrasos, né?) –, e
porque sabia que não podia ler de qualquer jeito. E agora marejei ao ver tua
letra enrolada e ouvir tua voz bem entonada com um ar de monólogo poético e teatral
lendo. Entristeci porque sei que vou esquecer aquele som com o passar do tempo
(deixa eu gravar?), e não só por isso, mas também porque vou esquecer essa
sensação de nó na garganta pela ânsia de ter um futuro legal fora da faculdade
sem querer deixá-la para trás, por saber que meus amigos não vão ser mais tão
pra sempre assim. Dói quando tu diz que não quer ficar em Sobral e eu sinto a
distância muito perto.
Apesar de não ter guardado na
memória muito do que tu leu naquele dia devido ao barulho no ambiente e à minha
tentativa (frustrada) de concentração para te ouvir de longe e conter o sorriso
bobo ao mesmo tempo, uma frase ficou gravada como um ritornelo de uma
partitura, o qual permite uma música deixar sua marca pela compulsão à repetição;
ou como a insistência de algo que deve ser lembrado e elaborado obsessiva e
minunciosamente sob o risco de perder o sentido se for banalmente
desconsiderado. Teu “eu estou pronta” entrou cortando tudo por dentro como se
eu ainda estivesse ingenuamente presa no primeiro semestre enquanto toda a
turma já estava com os canudos estirados em molduras nas paredes dos
consultórios elegantes, mas, ao mesmo tempo, senti tua mão me puxando para
alcançar o objetivo final de tudo isso, que eu nem sei direito qual é, e nem me
importei tanto por não saber naquele momento, mas senti que podia confiar em ti
mais do que nunca para me mostrar algum sentido. Inclusive, “seja pulsão de
vida” foi o pedido mais difícil que tu me fez nessa carta, sabia? Porque
simplesmente eu não sei ser. Mas, ainda assim, vi que também posso estar
pronta.
Sim, estamos em
dezembro de 2013 e, respondendo-te: sim, ele tem sido generoso comigo, e cruel
também, em complô com todos os outros meses desses anos desde 2009. Agora tu
deve estar lendo isso – pela primeira vez, pelo menos – em janeiro de 2014 com
um ar vigoroso, espero, de renovação das forças e de continuidade de uma
jornada pouco facilitada pela experiência.
Espero mais.
Espero tanto de 2014 que parece ser a primeira vez que não vejo tão claramente
o que pode acontecer, como se não fosse possível traçar tabelas de horários
semanais porque tudo está tão vazio de aulas e tão cheio de gigantescos compromissos
que dispensam papel e caneta e nos colocam, agora sim, no começo de um fim
apressado. A adaptação vai ser difícil, e te peço ajuda para não sair sozinha
do conforto contraditório da vida de estudante.
É, Dessão... A
saudade é estranha mesmo, como tu disse, e ela vai fazer questão de me deixar
despedaçada lá na frente, mas acho que se eu sentir que não vou estar sozinha nisso
e que ela vai ser motivo para assassinar a distância, reservo um cantinho
confortável pra ela morar, e vou me sentir bem sabendo que nada poderia ter
sido diferente, nem em intensidade, nem em magnitude. As aulas, os trabalhos e
seminários, as provas e provações, os atrasos, as músicas, as comidas, os
parabéns, as despedidas e as boas vindas, os abraços e os tapas carinhosos e de
reprovação, as madrugadas de estudos e de farras, as ressacas e o sono, os
estágios e os pacientes, os choros e os risos, os êxitos e as burradas, as
tantas conversas em meio a crises existenciais, as piadas internas tão
externalizadas que pediam para fazermos silêncio, e muito, um tantão mais que
fico tonta tentando lembrar. E tudo foi pleno, às vezes compartilhado, às vezes
sentido sozinha. Faríamos tudo de novo, se pudéssemos voltar. No
entanto, queremos seguir em frente por milhões de motivos que não giram só em
torno da independência financeira, como costumamos brincar, mas para provar
outras experiências e comprovar que já estamos preparadas, mesmo sentindo medo
e carregando tantas dúvidas.
Uh, mas vou
chorar tanto quando ler meus cadernos daqui a uns anos e encontrar nossas
conversas escritas durante as aulas, com besteiras hilárias e conflitos sérios.
E fica sabendo que tu fez uma grande diferença por aqui.
Não vai embora,
tá? Fica mais um pouco depois da festa.
Para minha grande amiga “linda,
inteligente e psicanalista” (tu apud eu),
Da menina invisível, bicho
arredio mulher (quase) psicanalista bestonilda do décimo semestre,
Adriane Ponte Cisne
27 de dezembro de 2013