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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Mais um sobre a greve

Quando rumores de greve pairavam nas salas e corredores da mínima casa que pensa nos comportar, confesso: a idiotice que eficientemente me acompanha só me permitiu pensar no quão divertida seria a história sobre o movimento estudantil ouvida pelos meus netos. Uma das melhores histórias da minha vida que eu poderia contar com um capacete verde de guerra na cabeça e enfatizando heroicamente cada momento greviano ocorrido em torno de todas as contestações que meus amigos e eu não silenciamos, e todas as dezenas de horas gastas em discussões intensas que muitas vezes demoravam dias para ter um veredicto, e as caras pintadas e barulhentas segurando frases de protesto, e todos os nossos quereres espremidos em poucas laudas, e mais, e mais. Pensei em tudo o que poderia ser fotografado, escrito e gravado nos incontáveis cartazes, computadores, sites, CDs, DVDs, agendas, cadernos, borrões e na memória de todos os que se agarraram para se movimentarem unidos. Imaginei trilhas sonoras com rostos familiares, coloridos e orgulhosos aparecendo em câmera lenta em diversos documentários criados e editados por cada um de nós na nossa memória.

Pensei empolgada na experiência de participar de um movimento de massa, no alívio causado pela paralisação das aulas sufocantes e na importância que eu poderia assumir só por fazer parte do movimento. Ora, percebi que tudo era muito mais e vi posturas e ações as quais não seriam possíveis de presenciar se uma decisão radical de parar tudo não tivesse sido consumada. Vi criaturas sérias que moldaram a cara do movimento e o transformaram quase em um objetivo último de vida. Seria hipocrisia minha se eu não enfatizasse também aqueles os quais sequer sabem que já tiveram aula ontem.

A pressão de quem não esteve a nosso favor e de quem fingiu que esteve foi enorme elevada à sétima potência, mas mesmo assim paramos, analisamos, decidimos... e ganhamos, ora bolas. Parar tudo o que você faz da sua vida cotidianamente é complicado e cria consequências bem desagradáveis, e nós o fizemos! E sustentamos isso por árduos 47 dias. Séria gente que fez desse tempo um sacolejo cuidadoso para não quebrar muita coisa e deu prática a muitos dos vários significados assumidos pela Psicologia.

Mas minha história vai ficar incompleta, pois confesso também minha preguiça por não ter me feito presente em todos os instantes. Minha culpa, tão grande culpa por não ter contribuído o suficiente. Recolho-me à minha ninharia quando assisto a cada um falando em nome do coletivo e sendo ouvido, levando-nos aonde devemos estar e mostrando-nos o que nem sempre conseguimos ver. Pelos caracóis branquelos escovados da barba do Noel, como tenho orgulho de conhecer todos vocês, futuros excelentes profissionais!! Não me orgulho só em fazer parte da Psicologia, mas de estar em meio à gente que dá bons significados à categoria. A mim só cabem aplausos e agradecimentos.


Acredito que tudo isso ainda não esteja muito nítido e só em um dia um pouco mais distante daqui, preenchido com uma daquelas rememorações do tipo “ai, quando eu estava na graduação...”, é que nós vamos entender bem mais claro onde se encaixa a responsabilidade assumida durante esses dias ainda fresquinhos no calendário. Chegou ao fim uma greve, mas não uma manifestação parcial de prazer. À parte isso, temos um novo começo com uma fração do ensino de qualidade pedido por tantos gritos.

2 comentários:

Thami disse...

Escreveeeee demais! lindo!

Alana Ávila disse...

drica, to te apertando mentalmente
sua linda :*

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DIZ AÊ!!