Pode parecer frescura minha,
mas em tempos de tanta falta de censura e tantos “ora, pode, por que não?”,
ainda não me acostumei com a falta de educação alheia. Basicamente não me sinto
gente quando alguém me maltrata intencionalmente (!), mesmo da mais simples
forma.
Não quero criar manuais de
etiqueta atualizados para o século XXI, mas às vezes parece que “obrigado”,
“desculpa”, “por favor” e afins saíram de moda ou foram abolidos com o vigor da
nova ortografia. Nem sou de cobrar tanto isso dos outros, mas às vezes é
notável um propósito pouco ou nada disfarçado de agredir alguém sem muita
justificativa. Ah, isso me revolta! E já consegue me tirar um ATP descomunal para
não devolver na mesma moeda. E, veja só, essa relativa pouca paciência já é
consequência da falta de educação alheia. Entendeu o caso? Estão me ensinando a
ser o que eu mesma critico! E não vou mentir que às vezes dá vontade de ser
mais hostil, e outras vezes o sou mesmo, porque sei que é mais fácil e o
resultado visado é quase instantâneo, infelizmente.
Parece que não somos gente
convivendo com gente. Às vezes me sinto um ratinho que vai dirigir e encontra
um leão na moto parado no sinal mostrando os dentes para o gato da bicicleta
que passou do lado do cavalo atravessando a rua a pé olhando para o passarinho
com a formiga no bico em cima da calçada. Ou seja, ninguém se entende, nem
sequer está vivo com o propósito de deixar o outro viver. E vamos levando os
dias na iminência de morder quem ocasionalmente passa por perto.
Já parei várias vezes para
pensar nisso e tentar relevar fácil, mas decidi que não quero. Não fui criada
para chamar os senhores de “tu”, nem para mostrar “cotoco” e soltar palavrões quando
me sentir insatisfeita, e isso é o mínimo do mínimo. Por que, então, tenho que
aceitar quando o fazem comigo? Noutro dia, um garotinho me deu dedo várias
vezes enquanto eu estava vestida de palhaço no hospital tentando alegrá-lo. Fiz
questão de exigir insistentemente o dedo, afinal ele tinha me dado, ora! Até
que desistiu de me insultar. Sua mãe apenas riu.
Há menos de um mês, derrubei
um cara da moto e fui estacionar para prestar socorro. Quando já estávamos ele
e eu no hospital esperando o médico chegar, ele desabafou: “achava que você ia
fugir e me deixar lá”. Fiquei surpresa por ele ter pensado assim, mas pensei
que muita gente faria exatamente isso, e me senti orgulhosa por não ter sido
mal educada (sim, considero isso, além de outras coisas, falta de educação
também) nem ter passado pela minha cabeça, e ainda me sinto orgulhosa de
escrever aqui porque não é o tipo de ação que merece parabéns nem recompensa,
mas é algo que acho que se deve fazer, porque o cara não era um cordeirinho e
eu não era um leão, nem vice-versa.
Enfim... Entenda que meu
mundo não está dentro de uma bolha amarela (amarela porque se tivesse que ser
perfeito não seria cor-de-rosa), e eu não sou cega ou iludida da vida ou pinel
da cachola. Claro que falta de educação vai muito além das famosas “palavrinhas
mágicas”. Elas não abarcam tudo (não há, na verdade, algo que abarque tudo em
lugar nenhum). Sei também que é difícil apontar o que é certo ou errado, se é
que posso dizer que esses termos ainda existem, principalmente hoje, quando as
coisas se misturam e se permitem freneticamente de muitas formas. Só acho que
algumas posturas ainda devem ser levadas a sério apesar de toda a liberdade que
nós ganhamos para fazer o que quisermos sem muita lei (que nem precisa ser estabelecida
no papel) para barrar.
Desculpa se falei besteira.
Por favor, fique à vontade.
Obrigada por ler.
Adriane
1 de abril de 2013